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Nos séculos XVII e XVIII, nas grandes cortes europeias imperava o espírito da receção, do aparato, de festividade e representação do poder. Inspirado pelos modelos circundantes, Simão Paes do Amaral, Senhor da Casa de Mangualde, mandou reformular as casas de família e transformá-las num Palácio, caracteristicamente barroco, cujo propósito assentava na arte de bem receber.

Os convidados – ilustres, familiares e amigos – eram cerimoniosamente recebidos no interior do Palácio, totalmente adaptado para este efeito. O elevado portal de receção, sobrepujado pelo escudo de armas da família encontrava-se estrategicamente voltado para a avenida principal da Vila, permitindo a entrada dos coches e liteiras, atrelados a cavalos e muares. Uma vez apeados eram recebidos pelos Senhores da Casa, com os seus trajes e acessórios sempre a preceito, como ditavam as regras da boa hospitalidade. De frente confrontava-os a imponente Escadaria Real, em dois lanços, que pretendia provocar o assombro através dos painéis de azulejos em azul e branco, do século XVIII, com a representação de temáticas mitológicas, venatórias e equestres objetivando-se a exaltação do papel e estatuto do nobre na sociedade. Não obstante, eram assoberbados simultaneamente pela azulejaria, a verticalidade e policromia dos tetos, as pinturas e o trabalhado dos arcos, janelas e portas, como se se tratasse de ritual ilusório de passagem para o andar nobre da casa, onde todas as celebrações vivamente aconteciam.

No andar nobre os convidados distribuíam-se pelas diferentes salas e salões consoante a ocasião. As Salas de Estar convidavam ao descanso das longas viagens, nos largos cadeirões e canapés, enquanto se desfrutavam os chás de especiarias, provindas dos Jardins, ou o chocolate quente, verdadeira mordomia da época. Os mais curiosos, fomentavam o lazer e a cultura junto da biblioteca, percorrendo os exemplares únicos e distintos que acompanharam a história e evolução da família Pais do Amaral. No Salão Nobre, em ambiente ricamente decorado sob uma ode mitológica assinavam-se solenemente decretos e credenciais de maior importância para a casa, a Vila e até o Reino, pelas mãos de Reis e Rainhas tão particularmente recebidos. Na hora da refeição eram reunidos os convidados na Sala de Jantar, tipicamente pompeiana. A mesa, ao centro, de grande comprimento, permitia a disposição ao redor sempre em número par, para trazer sorte aos negócios que, habitualmente, se discutiam. Os senhores tinham cadeiras elevadas e talhadas no espaldar, permitindo-lhes um lugar de destaque à mesa. As senhoras sentavam-se em cadeiras ricamente decoradas e com recortes ovais para gentilmente pousarem os seus penteados, pomposos e decorados com os grandes alfinetes de ponta. Destinados os lugares, o menu era servido consoante a caçada do dia, em motivo de celebração, no serviço mais importante da família, sempre identificado pelo monograma – PA de Pais do Amaral.

As honras finais decorriam, por fim, no Salão de Baile onde a família providenciava grandes festas, bailes e concertos. Em pano de fundo o piano francês melodiosamente intercalava com as gargalhadas, o subtil abanar dos leques, o brindar dos copos e o reluzir do curioso e intrigante painel de azulejos, reflexo do século e espírito das luzes. Reinava na sala a diversão, a crítica, a conversa, o espírito dinâmico do espetáculo dos sentidos – uma arte total: a arte de bem receber.