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Nos séculos XVIII e XIX, a família Pais do Amaral, estabeleceu importantes contactos e ligações com Itália, desencadeando um conjunto de inspirações, que viriam a refletir-se nas coleções do Palácio Anadia, particularmente nos elementos arquitetónicos, coleções de pintura a fresco, escultura, azulejaria e gravura.

Uma primeira ligação de cariz familiar e sanguíneo advém de um matrimónio contraído entre Simão de Sá Paes do Amaral (N. 20 de dezembro de 1756 – F. 1807), 9º Senhor da Casa de Mangualde, com a descendente da família Barberino, D. Isabel Luiza d’Almeida e Vasconcelos Quifel Barberino, Senhora dos Morgados de Monperres e Almeida. A família Quifel Barberino, originária em Portugal desde o século XVII, descendia da Casa dos Barberini, de Roma, Duques de Acceti e Príncipes da Palestrina, da qual provinham, nos séculos XVI e XVII, diversos cardeais da Cúria Romana, bem como o Papa Urbano VIII.

Poderá atribuir-se a Simão de Sá Paes do Amaral, considerando a sua ação no términus das obras do Palácio Anadia, no decorrer do século XIX, o desenho italianizante da fachada sul. Voltada para o pátio central da Casa, a fachada distingue-se pela sua escadaria em ferradura e por uma emblemática loggia[1] com balaustrada, onde perpetuam um chão lajeado com repetidas representações da flor-de-lis (símbolo de soberania, lealdade e honra) e um curioso teto de madeira policromada, com motivos associados à mitologia romana. Não obstante, também o Jardim Histórico com obras de intervenção relativas à quinta, jardins e mata é concluído por ação de Simão Paes do Amaral e Miguel Paes de Menezes, sobressaindo, dessa época, edificações de pedraria cuja influência também remonta aos costumes italianos.

Uma segunda relação com Itália resulta da representação diplomática de Portugal em Nápoles (Duas Sicílias), no decorrer da segunda metade do séc. XVIII, época em que ambos os reinos apresentavam semelhanças políticas, no que respeita a reformas preconizadas por ministros absolutos (refira-se em Portugal o exemplo representativo de Marquês de Pombal, ao invés do respetivo monarca D. José I e, em Nápoles, de Bernardo Tanucci no lugar de Carlos VII). Nesse sentido, dois membros da família Pais do Amaral – Aires de Sá e Melo (1760-1764) e José António de Sá Pereira (1764-1808), serviram como Ministros Plenipotenciários, cujo objetivo assentava na representação da corte portuguesa em Nápoles e na troca de correspondência e ofícios semanais, onde eram referidos os assuntos de maior importância como: o aparecimento das teses teológicas escritas em Lisboa pelo Padre António Pereira de Figueiredo, as colheitas e negócio do trigo, entre outros.

Das estadas mencionadas, em particular da permanência de José António de Sá Pereira, durante 44 anos, em Nápoles, resultam parte das coleções que viriam a ostentar o Palácio Anadia. Das oferendas reais (de Carlos VII) pelos serviços diplomáticos, bem como das influências assentes em acontecimentos históricos e culturais, então em execução (ex. escavações e descobertas arqueológicas de Herculano [1738] e de Pompeia [1748]), destacam-se a sucessiva representação de mitologia romana, particularmente visível a partir da azulejaria setecentista e das coleções de gravura e pintura; uma coleção de 48 figuras em porcelana Biscuit, única em Portugal, proveniente da Reggia di Capodimonte (Fábrica de cerâmica de Nápoles, criada em 1743, por Carlos VII) e com representações inspiradas nos achados arqueológicos; um conjunto de medalhões representativos da Família Real de Nápoles; um serviço de jantar em porcelana da Reggia di Capodimonte, personalizado com as iniciais da família PA (Pais do Amaral), com a respetiva informação de que “Paes mandou fazer em Napóles 1804” e com o “N” de Nápoloes coroado; e um conjunto de pintura decorativa sob fresco que ornamenta a Casa de Jantar, totalmente inspirado em Herculano e Pompeia, pelas composições formais e paleta cromática aplicadas.

De grande valor patrimonial, cada uma destas coleções perpetua, atualmente, no Palácio Anadia e constitui, assim, parte integrante da história e cultura da família Pais do Amaral.

[1] Loggia: elemento arquitetónico, semelhante a uma galeria, sustentado por arcos ou colunas e aberto integralmente num dos lados.

Referência: Pereira, Sara. 2010. Portugal e Nápoles no Tempo de Pombal: Actividade Diplomática. ISCTE-IUL: Dissertação de Mestrado.