Arquitectura
No séc. XVIII, seguindo as mudanças suscitadas pelos novos costumes ditados pelas cortes europeias, a fidalguia portuguesa mostrava predilecção pela época estival, aproveitando o verão para passar temporadas nas suas casas de campo, onde receberiam familiares e grupos de amigos desejosos de entretenimento. Para não cair em “desconsideração social”, era necessário providenciar festas, jogos e bailes, tendo sempre a mesa posta para todos os convidados.
As casas de campo senhoriais na província, até então, quase exclusivamente dedicadas à produção agrícola, destinada segundo uma sábia administração ao provimento de recursos de uma Casa e de uma Família, passam a ter uma nova função para a qual, na sua grande maioria não estavam preparadas. Era portanto preciso (re)edificar e adaptar as antigas casas, redimensionando-as para as novas funções e obrigações segundo os modelos que a sociedade impunha.
Deste modo, assiste-se a uma intensa transformação da paisagem rural e da arquitectura senhorial do norte ao sul do país, sendo notório o extraordinário desenvolvimento e qualidade arquitectónica alcançados, nomeadamente nas províncias do Minho e das Beiras. Neste contexto insere-se a reedificação da antiga casa senhorial da Família Paes do Amaral em Mangualde, que remonta historicamente aos primórdios do séc. XVII.
A traça arquitectónica do Palácio dos Condes de Anadia em Mangualde é um magnífico exemplo do barroco setecentista em Portugal. O conjunto monumental do edifício é fruto de um projecto delineado por um erudito arquitecto, que segundo Hélder Carita, se deve atribuir ao arquitecto coimbrão Gaspar Ferreira, autor da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. Através de uma inscrição na Igreja da Misericórdia desta Vila, datada de 1724, podemos realmente constatar que o referido arquitecto (que aqui trabalhou), terá necessariamente contactado com Simão Paes do Amaral “fidalgo de el rey mandou fazer à sua custa esta capela mor e a dotou e fez a maior parte das despesas desta igreja”[1].
Assim, tudo aponta para que obra do Palácio dos Paes do Amaral, tenha sido iniciada no primeiro quartel do século XVIII, sob o risco e orientação do referido arquitecto, não obstante a intervenção posterior de outros, pois todo o conjunto apenas seria concluído nos alvores de oitocentos. Apesar da iniciativa da sua edificação ficar a dever-se a Simão Paes do Amaral (6.º Senhor da Casa de Mangualde), há que registar o empenho de seu filho e seus sucessores na continuação e acabamento da construção deste Palácio, sendo o resultado final a expressão da perseverante vontade de sucessivas gerações da Família dos Condes de Anadia ao longo de cerca de um século.