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Parque e Jardins do Palácio de Anadia em Mangualde

Parque e Jardins

Em Portugal, desde sempre, o jardim esteve restrito a uma zona contígua à casa, “intimamente ligado com a arquitectura e a vida doméstica. Altos muros, alegretes, bancos, casas de fresco, (…) definem-se como elemento dum espaço, sobretudo de estar”[1], sendo bem delimitada a fronteira, entre este, a cerca, e as terras destinadas à agricultura, estabelecendo-se assim, uma verdadeira hierarquização dos espaços.

Entretanto, a partir do séc. XVIII despontava na Europa um novo olhar sobre o enquadramento do jardim na paisagem rural. Apesar de em Portugal não se verificar esta “tendência paisagística da Europa além-Pirinéus, onde a natureza envolvente é convidada a participar no traçado global do jardim”[2], podemos vislumbrar alguma influência desta tendência no conceito do jardim português setecentista, porém bem mais arquitectónico que paisagístico, integrando-se no espaço conforme as condicionantes geográficas do terreno, por vezes, abrindo alamedas através dos prados ladeados por sebes de arbustos e árvores, construindo agradáveis lugares de descanso ao longo desses caminhos[3], mas, ao contrário dessas tendências estrangeiradas, “voltado sobre si próprio, num ambiente de requintada intimidade, mais para ser usufruído no seu interior que para ser admirado do exterior”[4].

Como exemplo dessa nova abordagem conceptual setecentista, temos o exemplo da valorização do Parque da Quinta do Palácio dos Condes de Anadia, que se estendeu para o sul do palácio, sendo dirigidas para nascente as terras de semeadura (vinha e olival) e para poente uma “esplêndida mata com suas raras espécies arbóreas”[5].

O vasto Parque com os seus jardins escalonados em terraços com canteiros, embelecidos por tanques e fontes, ligados ao palácio por longos caminhos, “sombreados aqui e ali por castanheiros, plátanos, azinheiras e pinheiros”[6], ora riscados entre sebe de buxo, ora com muros baixos que se oferecem como bancos, proporcionam a “vivência dos jardins, sobretudo como espaço de passeio e de percurso recreativo”[7].

Este conceito tendia também “a valorizar grandes elementos escultóricos que acentuam o valor dinâmico do espaço pelo seu carácter volumétrico”[8], como acontece neste parque com chafariz pintado de cor-de-rosa e ocre-amarelo (acompanhado de tanque e bancos), o monumental edifício do pombal (composto de torre e dois tanques), além do magnífico conjunto anexo ao jardim de topiária com sebe, composto por tanque e fonte de pedra encimada por frontão curvo e obelisco piramidal, em articulação com uma escada dupla e patamar, que proporciona “vistas encantadoras de vinhedos, pomares de macieiras, searas, bosques e pastagens”[9].

Há ainda que referir, diversos recantos deste magnífico Parque e Mata, que de forma indelével, atestam uma intensa vivência do quotidiano familiar ao longo das gerações: “seu grande lago e indispensável barco para tranquilos passeios, o campo do jogo da péla, os jorros de água das bicas, a memória de pedra (encimada de obelisco que celebra o regresso de D. João VI a Portugal), até um pequeno cemitério destinado ao último descanso dos animais de estimação da casa, além de tudo isso possuía ainda como que um ermitério, ao qual chamavam «o convento dos frades», onde três bonecos de madeira, articulados e vestidos como franciscanos”[10], divertiam miúdos e graúdos que por ali passeavam.


[1]Helder Carita, Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal, 2.ª Edição, Bertrand Editora / Quetzal Editores, Lisboa, 1998, pp. 15 e 260.[2]Helder Carita, Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal, p. 15.[3]…., Jardins de Portugal, pp. 135 e 137.[4]Helder Carita, Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal, p. 15.[5]Júlio Gil, Op. cit., p. 70.[6]…., Jardins de Portugal, p. 137.[7]Helder Carita, Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal, p. 255.[8]Idem, ibidem, p. 251.[9]…., Jardins de Portugal, p. 137[10]Júlio Gil, Op. cit., p. 70.

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