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Os Paes do Amaral exerceram entre os séculos XVII e XIX um importante poder e influência na Vila de Mangualde, na qual foram capitães-mores e principais benfeitores. Totalmente ativos na sociedade, ocupando altos cargos dignitários, devem-se-lhes feitos e construções que hoje permanecem como parte integrante da história e património Mangualdense.

No início do século XVIII, Simão Paes do Amaral, 6º Senhor da Casa de Mangualde, inspirado por modelos e costumes das cortes europeias, toma a iniciativa de transformar as antigas casas da família, originárias do século XVI, num palácio barroco que viria a ficar conhecido, a partir do século XIX, como Palácio dos Condes de Anadia. Em 1721, enquanto Provedor e protetor da Misericórdia, mandou edificar uma Igreja para estabelecer sede própria à Irmandade, com origem no século XVII. A mesma, deve a sua construção a Gaspar Ferreira, arquiteto coimbrão, a quem se atribui a autoria da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra e que, atendendo à traça arquitetónica e à presença no espaço, no mesmo período, se pode assumir como presumível autor do Palácio dos Condes de Anadia.

Volvidos os anos de construção, passagem de pedreiros e mestres de obras, a Igreja da Misericórdia foi concluída em 1724, apresentando uma linguagem barroca e arquitetura semelhante às construções senhoriais e solarengas (como o Palácio Anadia). No interior encontra-se revestida e decorada com talha dourada, esculturas, pinturas e azulejos setecentistas referentes à temática religiosa. Aos Paes do Amaral destinava-se a tribuna, no lado da epístola, permitindo visibilidade às celebrações religiosas, enquanto resguardava a família dos olhares mais curiosos da população. Simão, seu fundador, encontra-se sepultado no altar-mor, no lado do evangelho, identificado pelo Brasão da Família e, visivelmente destacado enquanto seu patrono, na inscrição gravada no lado oposto.

No século XIX, a par da sua ligação à Misericórdia, os Paes do Amaral estiveram envolvidos na Confraria da Nossa Senhora do Castelo, cujo culto e devoção à Virgem lhes era muito particular. Desse modo, a família mandou erguer no lugar mais alto da Vila de Mangualde, envolto de história, lendas e tradições, a Ermida de Nossa Senhora do Castelo. A obra foi oficializada a 11 de janeiro de 1819, por Miguel Paes do Amaral e Menezes, Juiz de Fora em Coimbra e Comendador da Ordem de Malta que, para além da construção do templo, objetivou criar um parque verdejante, com árvores e fontes, tal como havia feito com o jardim e mata adjacentes ao Palácio Anadia. A interligar com o espaço, existia já um Escadório mandado erigir em 1750 por Bernardo Paes de Castelo Branco (filho de Simão Paes do Amaral) com quatro capelinhas de invocação mariana sobrepujadas pelo Brasão da Ordem de Malta. No seu interior subsistem esculturas em pedra de ançã, respetivamente: Nª Senhora da Conceição, Nª Senhora da Encarnação, Nª Senhora da Visitação e Nª Senhora da Assunção.

Ainda em construção, a Igreja foi inaugurada a 6 de setembro de 1832 à qual se realizou, no dia seguinte, a procissão de transladação da Imagem de Nossa Senhora do Castelo (data que ainda hoje assinala as festas em sua invocação – 7 e 8 de setembro). De arquitetura sóbria, ao estilo neoclássico, destaca-se, ao centro, a torre sineira semelhante à das grandes catedrais. No interior, segue a mesma linguagem e encontra-se decorada por talha dourada, esculturas e pinturas de temática religiosa e ostenta o teto em estuque com referências à Cidade de Mangualde e à Soberana Ordem de Malta. Tal como acontece na Igreja da Misericórdia, o altar-mor, destinava-se à representação da presença dos Paes do Amaral, através das duas tribunas, no lado do evangelho e no lado da epístola, e dos túmulos do seu fundador, Miguel Paes do Amaral e Menezes, e dos seus irmãos, José de Sá Paes e Menezes e Bernardo de Castelo Branco, com as respetivas lápides de homenagem.

As duas Igrejas foram, posteriormente, doadas pelos Paes do Amaral à Santa Casa da Misericórdia. Em 2022, numa parceria estabelecida entre o Palácio Anadia, a Santa Casa da Misericórdia e a Câmara Municipal de Mangualde, os três monumentos – Palácio dos Condes de Anadia, Igreja da Misericórdia e Ermida da Sra. do Castelo – ficam unidos em roteiro, com visitas orientadas, objetivando valorizar o seu património, a cultura material e imaterial e a história da família que as une e lhes deu origem: os Paes do Amaral.