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A temática mitológica, particularmente clássica, assume presença demarcável no Palácio Anadia e faz-se refletir na arte e nas coleções da família Paes do Amaral. A utilização dos motivos mitológicos demonstra a influência italiana, neste espaço, por via das ligações sanguínea e institucional que a família detinha.

No Salão Nobre, a sala principal da casa, destinada à receção das personalidades ilustres, os temas mitológicos surgem nos oito painéis de azulejos setecentistas que complementam e culminam o assombro e o aparato da escadaria real. Toda esta produção é proveniente da escola de Coimbra e atribuída a Salvador de Sousa Carvalho (c.1730-c.1810).

Do lado da fachada principal do Palácio estão representadas as quatro Estações do Ano, passíveis de identificar em quatro painéis de azulejos correspondentes, respetivamente, à Primavera, Verão, Outono e Inverno. No contexto da mitologia clássica, as Estações do Ano eram, inicialmente, confundidas com as três Horas: a Primavera que surge representada segurando uma flor; o Verão reconhecido através de um ramo de folhas; e o Outono por um cacho de uvas. Posteriormente o número de Horas fora aumentado, acrescentando-se-lhe o carácter físico da sucessão do tempo (doze horas) tendo-se iniciado, dessa forma, a distinção entre as Horas e as Estações.

Fixaram-se quatro Estações do Ano cada uma com atributos característicos e representativos que, quando reconhecidos, permitem uma identificação imediata e adaptação consoante o local onde figuram. Têm como divindade simbólica Baco (na mitologia grega, Dionísio), Deus do Vinho, habitualmente simbolizado com uma pantera. A Primavera faz-se representar com uma coroa de flores e um cabrito, podendo-lhe estar também associada a cornucópia; o Verão ostenta, não só uma coroa de espigas, como suporta o respetivo feixe; o Outono surge coroado com ramos de árvore e um cesto com fruta (é, possivelmente, a estação mais adaptável considerando o local, ou a colheita, que se pretende refletir – ex. alusivos: figos, uvas, etc.); ao
Inverno pode associar-se o coroamento de caniços e o ganso. Não obstante, é igualmente comum encontrar-se representado por uma pessoa de idade – “velho com barbas” -, junto a um braseiro.

Nos azulejos do Salão Nobre do Palácio Anadia, figuram muitos destes atributos que permitem a identificação das quatro Estações do Ano – a coroa de flores e o cabrito da Primavera; a coroa e o feixe de espigas do Verão; a adaptabilidade do Outono com a representação do vinho e das uvas (possivelmente com a representação do próprio Baco uma vez que surge ladeado de uma figura cuja dúbia subsiste entre um animal – pantera – e um humano); e o Inverno com o braseiro e a figura de um velho que se esconde na dualidade com a Deusa de duas caras.

As Estações do Ano recriam o mito do Rapto de Proserpina. Proserpina, filha de Ceres (Deusa da Agricultura) e Júpiter (Pai dos Deuses) fora raptada pelo seu tio Plutão (Deus dos Infernos) que se encontrava perdidamente apaixonado e a obrigara a casar-se com ele. Deparando-se com o rapto e a aflição da filha, Ceres correra o mundo à sua procura tendo descurado assuas funções divinas provocando terras estéreis e secas e homens famintos. Júpiter, pai dos Deuses e da ordem do mundo, como forma de travar a calamidade de Ceres ordenara Plutão a devolver Proserpina à mãe, porém, a jovem, faminta, havia comido um bago de romã que a ligara ao reino do marido, para sempre.

Assim, Proserpina fora obrigada a passar metade do ano com Plutão e outra metade com a sua mãe. Desse modo, ter-se-á dado origem ao ciclo das quatro Estações do Ano. Quando Ceres imergia na tristeza pela ausência de Proserpina, os campos ficavam estéreis – Outono e Inverno – quando Proserpina voltava para junto de Ceres, esta alegrava-se e os campos floriam – Primavera e Verão.

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